25 de fev. de 2009

O PECADO E O JUÍZO - parte 3

De início, eu ficava um pouco constrangida em meter a máquina na cara das pessoas, achava invasivo. Em seguida, descobri que a quantidade de máquinas ao redor do fantasiado é uma medida do seu sucesso. Era só mandar um scusa, grazie e ficava tudo bem para todos nós.

Mas a presença da máquina fotográfica no carnaval de Veneza, para mim, revela uma das principais características da sua natureza: a contemplação. É uma festa que se organiza para o olhar: o ver e o ser visto. O principal elemento de atração é o fantasiar-se com glamour, como uma representação do figurino mais próximo de tipos aristocratas e nobres e máscaras da commedia dell’arte, tipo de teatro italiano muito popular entre os séculos XV e XVIII que era apresentado nas ruas e praças públicas.
Estrategicamente, os fantasiados que transitam em grupos ou sozinho, andam, param, fazem gestos e pousam para o olhar dos que circulam pelas ruas principais.
Nosso trajeto tinha uma meta: conhecer a cidade e chegar à Praça San Marco, marco do carnaval veneziano. É lá onde acontece grande parte da programação oficial: desfile, apresentação de grupos de teatro e de música.

No caminho, íamos nos encantando com o empenho alegórico das pessoas- personagens. Mas, eu, particularmente, ficava mais atraída pelas crianças, que, pela escolha dos pais, óbvio, em muito reproduziam os costumes usados pelos adultos ou usavam os singelos e impagáveis palhaços.

No meio de tudo isso, e para ser turista mesmo no carnaval, andamos de gôndola, comemos pizza, tomamos sorvete, compramos souvenir e, claro, adquirimos e colocamos as nossas máscaras. Escolher a sua máscara é viver um pouco o que o espetáculo da fantasia no carnaval nos oferece, temos a liberdade de escolher o nosso próprio papel, sem diretor e sem produtor para determinar nada. Eu escolhi uma que deixasse a minha boca livre pra falar, comer, beber... Já que depois vem a “quaresma”.

Seguindo o nosso roteiro turístico, entrando em beco e nos perdendo, chegamos à Praça San Marco. Na programação oficial constava um desfile de crianças. Chegamos atrasados e não vimos, mas sem problemas. Lá ficamos admirando a grandeza e a beleza da catedral e da própria praça.

Anda, vê, fotografa, anda de novo e paramos diante de um tradicional café, inaugurado em 1720, o Florian. Tradicional, lindo e caro. Pegamos uma rápida fila e entramos. Lá dentro, parecia que estávamos dentro de uma cena, em cima de um palco. As pessoas ou personagens estavam lá sentados, exibindo-se, tomando chá e do lado de fora, diante de uma janela de vidro, várias câmaras fotográficas, filmadoras e gente olhando. Sentamos e pedimos o nosso chocolate de dez euros− maravilhoso por sinal − olhamos, fotografamos e saímos. O curioso é que neste lugar, mesmo não estando fantasiada, eu tinha a sensação de ser também uma atração. E gostei de me sentir importante e visível.
Mas o alvo era mesmo as madames e senhores com seus trajes estilo novela de época da Rede Globo.

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